sábado, 5 de março de 2011

A Mulher Selvagem e o Dia Internacional da Mulher

Todo ano, quando chega o início de março, começo a receber mensagens sobre como se originou o Dia Internacional da Mulher. Este ano, para minha surpresa, até meu filho chegou da escola me falando dessas origens, dando data e tudo na ponta da língua.

Semana passada, uma amiga querida me mandou trechos da obra de Clarissa Pinkola Estés, "Mulheres que Correm com Lobos", para comemorar essa data, rompendo com a tradição dos e-mails que só falam da origem do Dia Internacional da Mulher. Contei a ela da dificuldade que tenho para ler este livro (nunca consegui chegar ao fim dele, e não me pergunte o motivo) e de como eu gostaria de poder me unir a outras mulheres para estudá-lo, lê-lo, compartilhá-lo.

Para quem não conhece o texto, vou deixar um pouco dele aqui, na esperança de que, neste Dia Internacional da Mulher, não nos esqueçamos da Mulher Selvagem que habita em nós.




"Todas nós temos anseio pelo que é selvagem. Existem poucos antídotos aceitos por nossa cultura para esse desejo ardente. Ensinaram-nos a ter vergonha desse tipo de aspiração. Deixamos crescer o cabelo e o usamos para esconder nossos sentimentos. No entanto, o espectro da Mulher Selvagem ainda nos espreita de dia e de noite. Não importa onde estejamos, a sombra que corre atrás de nós tem decididamente quatro patas."

"Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente intuitivos e têm grande preocupação para com seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. Tem experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação. Têm uma determinação feroz e extrema coragem."

"As questões da alma feminina não podem ser tratadas tentando-se esculpi-la de uma forma mais adequada a uma cultura inconsciente, nem é possível dobrá-la até que tenha um formato intelectual mais aceitável para aqueles que alegam ser os únicos detentores do consciente. "

"Não importa a cultura pela qual a mulher seja influenciada, ela compreende as palavras mulher e selvagem intuitivamente. Quando as mulheres ouvem essas palavras, uma lembrança muito antiga é acionada, voltando a ter vida. Trata-se da lembrança do nosso parentesco absoluto, inegável e irrevogável com o feminino selvagem, um relacionamento que pode ter se tornado espectral pela negligência, que pode ter sido soterrado pelo excesso de domesticação, proscrito pela cultura que nos cerca ou simplesmente não ser mais compreendido. Podemos ter-nos esquecido do seu nome, podemos não atender quando ela chama o nosso; mas na nossa medula nós a conhecemos e sentimos sua falta. Sabemos que ela nos pertence; bem como nós a ela."

"O anseio pela mulher selvagem surge quando nos encontramos por acaso com alguém que manteve esse relacionamento selvagem. Ele brota quando percebemos que dedicamos pouquíssimo tempo à fogueira mística ou ao desejo de sonhar, um tempo ínfimo à nossa própria vida criativa, ao trabalho da nossa vida ou aos nossos verdadeiros amores."

"Quando as mulheres reafirmam seu relacionamento com a natureza selvagem, elas recebem o dom de dispor de uma observadora interna permanente, uma sábia, uma visionária, um oráculo, uma inspiradora, uma intuitiva, uma criadora, uma inventora e uma ouvinte que guia, sugere e estimula uma vida vibrante nos mundos interior e exterior. Quando as mulheres estão com a Mulher Selvagem, a realidade desse relacionamento transparece nelas. Não importa o que aconteça, essa instrutora, mãe e mentora selvagem dá sustentação às suas vidas interior e exterior."

"De que maneira a Mulher Selvagem afeta as mulheres? Tendo a Mulher Selvagem como aliada, como líder, modelo, mestra, passamos a ver, não com dois olhos, mas com a intuição, que dispõe de muitos olhos. Quando afirmamos a intuição, somos, portanto, como a noite estrelada: fitamos o mundo com milhares de olhos."

"0 arquétipo da Mulher Selvagem, bem como tudo o que está por trás dele, é o benfeitor de todas as pintoras, escritoras, escultoras, dançarinas, pensadoras, rezadeiras, de todas as que procuram e as que encontram, pois elas todas se dedicam a inventar, e essa é a principal ocupação da Mulher Selvagem. Como toda arte, ela é visceral, não cerebral. Ela sabe rastrear e correr, convocar e repelir. Ela sabe sentir, disfarçar e amar profundamente. Ela é intuitiva, típica e normativa. Ela é totalmente essencial à saúde mental e espiritual da mulher."

"E então, o que é a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da psicologia arquetípica, bem como pela tradição das contadoras de histórias, ela é a alma feminina. No entanto, ela é mais do que isso. Ela é a origem do feminino. Ela é tudo o que for instintivo, tanto do mundo visível quanto do oculto - ela é a base. Cada uma de nós recebe uma célula refulgente que contém todos os instintos e conhecimentos necessários para a nossa vida.

Ela é a força da vida-morte-vida; é a incubadora. É a intuição, a vidência, é a que escuta com atenção e tem o coração leal. Ela estimula os humanos a continuarem a ser multilíngües: fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão, da poesia. Ela sussurra em sonhos noturnos; ela deixa em seu rastro no terreno da alma da mulher um pêlo grosseiro e pegadas lamacentas. Esses sinais enchem as mulheres de vontade de encontrá-la, libertá-la e amá-la.

Ela é idéias, sentimentos, impulsos e recordações. Ela ficou perdida e esquecida por muito, muito tempo. Ela é a fonte, a luz, a noite, a treva e o amanhecer. Ela é o cheiro da lama boa e a perna traseira da raposa. Os pássaros que nos contam segredos pertencem a ela. Ela é a voz que diz, "Por aqui, por aqui".

Ela é quem se enfurece diante da injustiça. Ela e a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos. É à procura dela que saímos de casa. É à procura dela que voltamos para casa. Ela é a raiz estrumada de todas as mulheres. Ela é tudo que nos mantém vivas quando achamos que chegamos ao fim. Ela é a geradora de acordos e idéias pequenas e incipientes. Ela é a mente que nos concebe; nós somos os seus Pensamentos."

"Se as mulheres querem que os homens as conheçam, que eles realmente as conheçam, elas têm de lhes ensinar algo do seu conhecimento profundo. Algumas mulheres dizem que estão cansadas, que já se esforçaram demais nessa área. Sugiro humildemente que elas estiveram tentando ensinar um homem sem vontade de aprender. A maioria dos homens quer saber, quer aprender. Quando os homens demonstram essa disposição, é a hora de fazer revelações; não apenas a esmo, mas porque mais uma alma perguntou. "

"0 companheiro certo para a Mulher Selvagem é aquele que tem uma profunda tenacidade e resistência de alma, aquele que sabe mandar sua própria natureza instintiva ir espiar por baixo da cabana da alma de uma mulher e compreender o que vir e ouvir por lá. O bom partido é o homem que insiste em voltar para tentar entender, é o que não se deixa dissuadir."

"Portanto, a tarefa primitiva do homem consiste em descobrir os nomes verdadeiros da mulher, não em usar indevidamente esse conhecimento para ganhar controle sobre ela, mas, sim, para captar e compreender a substância luminosa de que ela é feita, para deixar que ela o inunde, o surpreenda, o espante e até mesmo o assuste. Também para ficar com ela. Para entoar seus nomes para ela. Com isso os olhos dela brilharão. E os dele também."

"É bom ter muitas personas, colecioná-las, costurar algumas, recolhê-las à medida que avançamos na vida. Quando vamos envelhecendo cada vez mais, com uma coleção dessas à nossa disposição, descobrimos que podemos ser qualquer coisa, a qualquer hora que desejemos."

Nos comentários, diga de qual trecho você mais gosta. Se quiser, diga também o motivo.

9 comentários:

Iony disse...

Eu percebi que tenho esse livro a exato 10 anos e aidna não cheguei ao fim dele.Como eu acredito q é um livro q tem vida propria e deixo ele num canto qdo ele fala coisas q me ferem demais.Parei no Barba Azul durante uns 3 anos. Até q entendi! Pra mim é um livro q se le aos poucos, bem aos poucos.Eu participei de um grupo on line onde a metade ou mais do grupo tb não tinha chegado ao fim!rsrs E tudo bem,a gente ia aprendendo assim mesmo. Então não estranhe,tem mais gente no mundo que demora seculos pra termina-lo! Alias, eu acho q quem le esse livro de uma vez só... ou é um genio MESMO....ou acha q entendeu aquilo q no final vai perceber q nao entendeu!Grupos sobre ele: caraaaaa,só se fossem com pessoas de EXTREMA confiança, pq não tem como falar dele sem nos expor por completo.Eu fiz uma grande amizade por causa desse livro e ela dura 10 anos!!!

Achei muito delicado vc colocar trechos dele aqui pra gente! =)

Luciana Onofre disse...

Esta semana, no mesmo dia q Iony citou sua vontade em ler e realizar algo com o livro, uma moça no Face dispôs algo assim, eis o perfil dela:

http://www.facebook.com/profile.php?id=1009010740

Mônica Azevedo disse...

Engraçado que eu também conheço muita gente que não conseguiu chegar ao final deste livro. Eu consegui ler duas vezes, mas confesso que foi difícil, durante esse tempo parei para ler outros livros e depois voltei a ele. E mesmo assim, ainda acho que seria legal ler de novo, ele é muito intenso, muito profundo.

Aliks disse...

...esse livro está na minha lista de desejos...é difícil até separar um trecho, pois tudo toca lá no fundinho do ser!!!!
Bju

Iara Rodrigues da Cunha disse...

...não li o livro mas vou ler..parece ser bem interessante. Gostei do trecho "De que maneira a Mulher Selvagem afeta as mulheres? Tendo a Mulher Selvagem como aliada, como líder, modelo, mestra, passamos a ver, não com dois olhos, mas com a intuição, que dispõe de muitos olhos. Quando afirmamos a intuição, somos, portanto, como a noite estrelada: fitamos o mundo com milhares de olhos."...entre outros.
abs

Mary disse...

Parei na mulher esqueleto,pois eu acho q ela reflete essa totalidade que falta em mim...encontrar o amor,mesmo no mais feio...tenho me esforçado!rs..depois de 10 anos de casamento,crises,estou chegando lá...tenho trabalhado isso em mim..como a amiga disse,acho q é um livro com vida própria,ainda nao cheguei ao final,parece q ele realmente tem algo prá contar e ensinar prá gente..é assim q penso...feliz dia prá todas nós!

MULHERES EM FASES disse...

Tem uns 11 anos que tentei ler este livro, mas abandonei e posteriormente doei o livro.

Há algumas semanas comprei novamente e vou iniciar sua leitura e estou empenhada em chegar no final.

Acho que este livro é para mulheres que buscam a sua ancestralidade, seu passado antigo e imortal.

A mulher que sou hoje é reflexo das muitas vidas já vividas e sentidas em todos os seus aspectos.

Ler, rever e falar do selvagem, do antigo, do ancestral, das origens e raízes das inúmeras mulheres que todas já fomos não é facil mesmo, acho que vem daí a dificuldade para chegar até o fim deste livro.

Desejo que os laços que nos unem fortaleçam a cada uma de nós para que o conhecimento, a fé e a sabedoria possam inundar nosssas vidas e nossas essencias de "mulher".

Ariany Moreira disse...

Também conheço muitas mulheres que não terminaram o livro, assim como eu.

Uma lista para ler o livro e discutir sobre o assunto, pra mim não funciona, por que? porque eu vejo esse livro como iniciático, cada mulher o lê a seu momento.

É pra ser lido à medida em que interiorizamos seu ensinamento!

Eu me vi na mulher loba e essa imagem nunca mais sairá da minha mente.

Silvia Duarte disse...

Este livro é um dos livros que estou ensaiando para comprar. Depois de ler este trecho fiquei com a certeza. Tenho que ler. Estou no momento.
AH! Amei seu blog! Demais!
Silvia